segunda-feira, 30 de abril de 2012

A Ditadura Militar brasileira nas telas de cinema [Thaís Choucair] #1


              

              Tortura, mortes, censura. Chegam os anos 80: após um árduo período sofrendo a Ditadura Militar, o Brasil consegue respirar novamente. Mas tais anos calados, sufocados, haveriam de deixar marcas. Na memória, na consciência, na História do Brasil. O que se passara nos porões militares, nas ruas, nas mentes, precisava ser mostrado, dito, gritado. O cinema foi – e é – um dos principais meios (e fins!) utilizados para retratar tal época. Porém, um período tão complexo, tão silencioso, e tão importante, não poderia deixar de gerar visões com tantas diferentes facetas. A História da Ditadura não é uma, nem duas, nem três: são várias. Tal como são suas representações fílmicas. E grande parte delas viveu ali, em fitas e depois DVDs, colecionadas no armário da sala, prontas para que alguém mergulhasse nelas. E aqui vou eu.

            1982: Roberto Farias lança “Pra frente Brasil”. No roteiro, dentre outras coisas: tortura, participação americana no treinamento de militares brasileiros, financiamento feito por civis (empresários brasileiros), da “caça” aos subversivos: assuntos que eram, absolutamente, tabus. O filme foi censurado, depois cortado. Só em 1983 foi exibido inteiramente. Na produção, um homem comum, Jofre, é preso por engano em 1970, ao pegar um taxi com um “subversivo” procurado pela polícia. O enredo é visto sob a ótica da família de Jofre, que sofre procurando-o, primeiramente por vias formais (de acordo com o filme, a sociedade não fazia a mínima ideia do que se passava graças à censura) e, depois, pela ilegalidade. Jofre é torturado, exigiam que ele contasse o que sabia. Tais cenas da tortura são intercaladas com cenas da Copa do Mundo de 1970 no México, e, no ápice do filme, a morte de Jofre, a Seleção Brasileira comemora o tricampeonato. É retratada uma vitimização da população brasileira, que não sabia de nada e ficava ao meio da perversidade dos militares e da irresponsabilidade dos militantes: o herói do filme é um homem comum.

            Em 1981, é lançado “Eles não Usam Black Tié”, filme de Leon Hirszman. Já essa produção não trata da ditadura diretamente, e não volta alguns anos no tempo, para aqueles piores (na década de 70), mas é sobre seu próprio período, quando se iniciava a abertura política. Na trama, numa cidade pobre onde a maioria das pessoas trabalhava em uma fábrica, uma greve é organizada. O filme mostra, sim, a repressão militar batendo e contendo a greve nas ruas. Porém, o ponto mais intrigante é a indecisão de um jovem, de 20 e poucos anos, que ficava entre a greve, tomada de frente por seu pai, e a gravidez de sua namorada, a qual ele pensava que devia sustentar e cuidar. Uma cena do filme sintetiza, ao meu ver, uma questão importantíssima apresentada por tal produção: o pai do jovem, quando este último fica amedrontado em participar do movimento sindical, diz que o entende, entende seu medo, seu receio, pois ele havia crescido na Ditadura. 


Desta fala e de outras é que pude refletir: as marcas da Ditadura podem ter sido muito mais internas e subjetivas do que já se pôde imaginar. 

Um comentário:

  1. Muito bom seu post, bem escrito! Senti falta de falar mais das suas impressões sobre os filmes, para além da sinopse! Bom trabalho pra você!

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