segunda-feira, 30 de abril de 2012

O cinema - como espaço urbano - e a sociedade brasileira [Luísa Teixeira de Paula] #1


Embora 92% dos municípios brasileiros  não possuam nenhuma sala de cinema, segundo o IBGE, e os altos custos dos ingressos limitem o acesso à população das cidades que possuem estes espaços, as salas de exibição têm uma importância indiscutível para o desenvolvimento cultural da sociedade.  É por meio delas que o público, ávido por novas experiências, descobre um mundo de magia onde tudo é possível, além de se deparar com situações que reproduzem o seu cotidiano, trazendo reflexões e discussões acerca da realidade.
O Cine Olympia, de Belém, que completou 100 anos em abril desse ano e é considerado o cinema mais antigo em funcionamento no país, reafirma essa importância. “As pessoas vinham para cá não necessariamente para ver filme, mas o lance era  social, era ir bem vestido, com a melhor roupa, para chegar e ver e ser visto”, de acordo com o produtor cultural Marco Antônio Moreira. “Mais do que um cinema, o Olympia é, hoje, um patrimônio histórico e cultural do estado do Pará, da cidade de Belém. Sua história, de certa forma, está na história de tantos espectadores que nesta sala de exibição tiveram seus sonhos, suas surpresas, suas emoções e suas descobertas através de tantos filmes que ali foram exibidos.” ¹
Da mesma maneira, a Cinelândia, no centro do  Rio de Janeiro, assegura o cinema “como um fator importante nas relações entre pessoas e espaço urbano, em meio a formação sócio-espacial da cidade em sua Belle Époque”, como afirma  a estudante Talitha Ferraz ². “A sala de cinema se impôs na cidade como produto e realizador de um momento moderno, exercendo influências nos trajetos e na vida cotidiana das pessoas”. A Cinelândia transformou-se, então, no ponto de encontro de reivindicações políticas e sociais, concretizando-se, muitas vezes, como palco de passeatas e comícios e reunindo em seu domínio intelectuais e boêmios, estudantes e políticos, artistas e populares.
A cena cine-cultural de Belo Horizonte, que também faz referência a este papel transformador do cinema como espaço urbano, vem se modificando de tempos em tempos, trazendo uma série de novas reflexões a este respeito, um assunto para as próximas postagens.



¹ Através de depoimento dado ao Jornal Nacional e ao blog Espaço Municipal Cine Olympia. Disponível aqui e aqui

² Através do estudo “O papel do cinema na urbanização do Rio de Janeiro: salas de exibição, hiperestímulos e dinâmicas sociais da vida moderna”. Disponível aqui

6 comentários:

  1. Olá, Luísa. Legal seu post, não conhecia esse Cine Olympia. Fiquei curiosa por ler algo sobre os textos "O papel do cinema na construção da identidade da Cinelândia" e “O papel do cinema é gerar uma memória em nós mesmos", que você mencionou no seu plano de trabalho. Dá pra pensar que o cinema também desempenha um papel importante na formação das identidades e na produção de memória. Você chegou a ler esses textos?

    ResponderExcluir
  2. Cheguei sim, Cris, mas um post de 1500 caracteres (que acabou maior que isso) não me permitiu aprofundar o assunto. Preferi falar também sobre o Cine Olympia para dar uma ideia mais geral a respeito do papel social dos cinemas no nosso país do que acabar falando apenas da Cinelândia do Rio, uma vez que o tema é bastante extenso e acaba gerando novas interpretações a esse respeito. Dessa maneira, o artigo da Thalita Ferraz acabou se enquadramento melhor no meu objetivo principal ao escrever esse post. Da mesma forma, o artigo " O papel do cinema é gerar uma memória em nós mesmos" foi preterido em função dos outros uma vez que a introdução do assunto desenvolvido a partir de entrevistas com o diretor Walter Salles, que era o pretendido a partir do plano de trabalho, se estenderia demais para os limites desse blog.

    ResponderExcluir
  3. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  4. Oi, Luísa, o Cine Olímpia é uma grande referência para nós, de Belém. Assisti a muitos filmes lá (de Bela e a Fera a Titanic). Só por curiosidade, mando o link do festival de curtas universitários que teve como tema dos 100 anos do Cine Olímpia: http://www.osga.com.br/divulgacao-curtas/

    Sobre seu assunto, uma iniciativa muito interessante foi da atriz Dira Paes que fez cinema itinerante na Amazônia levando filmes para populações ribeirinhas que nunca tinham visto nada na tela grande (algumas informações em: http://www.portalorm.com.br/plantao/imprimir.asp?id_noticia=361867). Um abraço!

    ResponderExcluir
  5. Beleza, Luísa! Bom trabalho! Sugiro que nos próximos post você mencione o que você leu e diga que não cabe, se for o caso. Só pra gente saber que você está conseguindo fazer o que propôs no plano, ok? Abraço.

    ResponderExcluir