No mês de maio, um aspecto me chamou atenção:
Agamenon faz narrativas em primeira pessoa. Sei que isso já pode ser óbvio para
muitos, mas, para mim, não era. Nos últimos posts comentei sobre o formato do
texto desse colunista, que parecia-me rigorosamente fiel ao jornalismo
tradicional, tanto na diagramação como no fato de ser escrito impessoalmente e ser
gramaticalmente formal (salvo os trocadilhos).
Eu fazia uma distinção clara: nos textos de
José Simão, entende-se que sua abordagem é direta, como uma conversa com o
leitor. Há também trocadilhos e notícias fictícias, porém, elas são explícitas
e apresentadas sem o seguimento do rigor formal da língua e da diagramação. Ao
contrário, Agamenon, ao meu ver inicial, usava do padrão jornalístico para
ironizá-lo, e a ironia estava justamente em segui-lo à risca para narrar e
comentar notícias absurdas (também fictícias).
Nesse mês de estudo, essa distinção entre os
dois autores foi flexibilizada por mim. Veja como Agamenon construiu uma das
colunas de maio (o personagem descreve sua prisão no período da Ditadura
Militar):
“Por trás das grades da masmorra,
observávamos os milicos dando duro para a construção do Brasil Grande. Eles
passavam o dia inteiro aparando a grama do campo de futebol dos oficiais e
caiando as árvores até a metade. Já estava ficando entediado com aquela rotina
de apanhar o dia todo quando o Jaguar, sempre habilidoso, cavou, com uma colher
de chá, um túnel que saía de nosso cela e ia até um botequim perto do quartel.”
Esse trecho faz parte do corpo da coluna,
feita sem separação do discurso direto e indireto (não apresenta-se de nenhuma
forma que, numa parte pontual da coluna, o autor falará de maneira pessoal).
Foi possível perceber, portanto, que os autores de Agamenon não são tão
radicais quanto eu pensava. Não preocupam-se em seguir rigorosamente o formato
jornalístico impessoal e, por isso, a coluna dos mesmos assemelha-se à de José
Simão nesse aspecto, comum também aos colunistas de forma geral. Diversas
vezes, eles falam em primeira pessoa. Como eu não havia notado esse detalhe
antes? Mesmo que ele seja mais evidente nos textos de Simão, em Agamenon faz
toda a diferença! Pra quem pensava que a identidade desse último autor era
realmente velada...
Melissa, que bom que suas leituras tem te proporcionado surpresas!
ResponderExcluirSeria interessante você contextualizar mais as colunas das quais fala, indicar um link para elas ou até reservar a elas um espaço no post.
Assim o leitor não fica tão perdido...
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluiré verdade Bárbara! Nos dois primeiros posts coloquei links e indiquei as colunas mais exatamente. Somente nessa achei necessário aproveitar o número de caracteres pra registrar a descoberta.
ResponderExcluirObrigada pela dica!