segunda-feira, 28 de maio de 2012

Agamenon e José Simão: o humor na imprensa escrita [Melissa Neves] #3




No mês de maio, um aspecto me chamou atenção: Agamenon faz narrativas em primeira pessoa. Sei que isso já pode ser óbvio para muitos, mas, para mim, não era. Nos últimos posts comentei sobre o formato do texto desse colunista, que parecia-me rigorosamente fiel ao jornalismo tradicional, tanto na diagramação como no fato de ser escrito impessoalmente e ser gramaticalmente formal (salvo os trocadilhos).

Eu fazia uma distinção clara: nos textos de José Simão, entende-se que sua abordagem é direta, como uma conversa com o leitor. Há também trocadilhos e notícias fictícias, porém, elas são explícitas e apresentadas sem o seguimento do rigor formal da língua e da diagramação. Ao contrário, Agamenon, ao meu ver inicial, usava do padrão jornalístico para ironizá-lo, e a ironia estava justamente em segui-lo à risca para narrar e comentar notícias absurdas (também fictícias).

Nesse mês de estudo, essa distinção entre os dois autores foi flexibilizada por mim. Veja como Agamenon construiu uma das colunas de maio (o personagem descreve sua prisão no período da Ditadura Militar):

“Por trás das grades da masmorra, observávamos os milicos dando duro para a construção do Brasil Grande. Eles passavam o dia inteiro aparando a grama do campo de futebol dos oficiais e caiando as árvores até a metade. Já estava ficando entediado com aquela rotina de apanhar o dia todo quando o Jaguar, sempre habilidoso, cavou, com uma colher de chá, um túnel que saía de nosso cela e ia até um botequim perto do quartel.”


Esse trecho faz parte do corpo da coluna, feita sem separação do discurso direto e indireto (não apresenta-se de nenhuma forma que, numa parte pontual da coluna, o autor falará de maneira pessoal). Foi possível perceber, portanto, que os autores de Agamenon não são tão radicais quanto eu pensava. Não preocupam-se em seguir rigorosamente o formato jornalístico impessoal e, por isso, a coluna dos mesmos assemelha-se à de José Simão nesse aspecto, comum também aos colunistas de forma geral. Diversas vezes, eles falam em primeira pessoa. Como eu não havia notado esse detalhe antes? Mesmo que ele seja mais evidente nos textos de Simão, em Agamenon faz toda a diferença! Pra quem pensava que a identidade desse último autor era realmente velada... 

3 comentários:

  1. Melissa, que bom que suas leituras tem te proporcionado surpresas!
    Seria interessante você contextualizar mais as colunas das quais fala, indicar um link para elas ou até reservar a elas um espaço no post.
    Assim o leitor não fica tão perdido...

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. é verdade Bárbara! Nos dois primeiros posts coloquei links e indiquei as colunas mais exatamente. Somente nessa achei necessário aproveitar o número de caracteres pra registrar a descoberta.
    Obrigada pela dica!

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