Fechado para sempre.
Não é possível, minha mocidade
O fim das coisas
Carlos Drummond de Andrade
O Cine Odeon, fechado em janeiro de 1928, é símbolo da efetização da vida cinematográfica em Bh. Primeiro cinematógrafo permanente da capital mineira, inaugurado em 1906 com o nome de Teatro Paris, era considerado um “centro de sociabilidade chic”, de acordo com o pesquisador Ataídes Braga, autor do livro “O fim das coisas - as salas de cinema de Belo Horizonte”. Com as mudanças ocorridas na sociedade mineira, a partir principalmente do início da atividade industrial no estado e da vontade de se estabelecer aqui uma vida cultural tão intensa como em São Paulo e até mesmo Paris , são abertas novas salas de exibição, como o Cine Pathé (1920) e o Cinema Democraata (1927) - que viria a se chamar Cine Roxy anos depois. Mais do que apenas grandes teatrosque possibilitavam às pessoas diversão, com direito a flertes e conversas e discussões acerca dos filmes e do cotidiano em que viviam, os cinemas dessa época produziam conteúdos jornalísticos, como o Pathe Jornal, que abordavam tanto a programação quanto o registro das sessões e o comportamento dos espectadores ali presentes, reafirmando seu papel social como meio de interação e discussão de valores e abrindo espaço para um novo tipo de cobertura cultural na imprensa do estado: as colunas sociais.
Na década de 30 o cinema se torna, então, diversão consolidada na capital mineira e em 1932, o Cine Theatro Brasil, que vem a se tornar uma das maiores salas de exibição da América Latina, é inaugurado. Marco da arquitetura art déco de BH, o cinema se torna peça importantíssima para o desenvolvimento da arte modernista do estado, ao sediar em 1936 o Salão do Bar Brasil, trazendo a público as discussões sobre arte no estado.
Com o Cineclube Belo Horizonte e o CEC (Centro de Estudos Cinematográficos), na década de 60, o cinema-diversão dá lugar à grandes discussões acerca de denúncias, documentários e filmes fora do circuito hollywoodiano, alicerce para mostras de cinema atuais, como o ForumDoc.BH e inciativas como o Cine Humberto Mauro, inaugurado em 1978 e que mantém um perfil alternativo de promoção regular de mostras, festivais e lançamentos.
A partir de 1980, entretanto, os cinemas de rua começam a entrar em declínio, em grande parte pelo alto custo em se manter suas grandes instalações, com capacidade para até 2 mil pessoas. A maioria das salas de exibição passa a encontrar-se, então, em shopping centers, o que representa uma grande perda para a população da cidade, que além de não possuir mais cartões postais que marcaram o espaço urbano da cidade e sua história, perdem um lugar propício a interações sociais de todo tipo e ao desenvolvimento da cultura local.
Pensando nisso, surgiram iniciativas como o projeto de revitalização do Cine Brasil, na Praça Sete, e a tranformação do ex Cine Palladium em centro cultural e patrimônio histórico da cidade, pelo Sesc- MG. Aliado à isso, está o Usiminas Belas Artes, que se caracteriza como o único cinema comercial de rua de BH.
Oi, Luísa! Legal seu post. Esse vídeo é de partir o coração (essa trilha, tão nostálgica...), você não acha?
ResponderExcluirQuanto aos cinemas em shopping centers, penso que esses espaços ainda são espaço para interações sociais variadas (emboram não sejam as mesmas dos cinemas de rua). O problema é que são cinemas que priorizam filmes de grande circulação, comerciais, muitas vezes pobres no que diz respeito à própria linguagem cinematográfica... O cinema ficou relegado a um objeto de consumo! Uma lástima!
Quanto ao fim do seu post, será que podemos considerar o Belas Artes um cinema 'comercial de rua'? Se sim, certamente não é tão comercial assim...
Por fim: você foi nesses cinemas do centro nessa quinzena? O que achou?
Abraço e bom trabalho!
Então Cris, quando falo que o Usiminas Belas Artes é o último cinema comercial de rua de BH, não levo em consideração apenas a exibição de filmes comerciais neste espaço, o que não faz muito sentido se pensarmos no propósito de exibição de filmes de arte, alternativos e documentários próprio do Belas. Falo 'comercial' com o sentido de sala de exibição que se sustenta propriamente através da exibição de filmes, ainda que por trás do projeto exista o apoio e a iniciativa de uma grande empresa privada.
ExcluirVisitei todos os cinemas mencionados no post: Palladium, Belas Artes e Brasil, ainda que não tenha conseguido permissão para entrar no último, que passa atualmente por uma grande reforma. Tenho um carinho muito grande por todos eles, principalmente pelo Belas Artes, que consegue juntar comida de qualidade, bons filmes - a um preço justo -, livraria e pessoas que estão sempre dispostas a um último comentário, uma última análise do filme, ainda que sejam completos desconhecidos.
Ah! E atenção ao prazo dos posts!!!!
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