terça-feira, 15 de maio de 2012

Kusturica no seu Underground [Elisa Carvalho] #2


Nesse post o filme de Kusturica abordado vai ser Underground – mentiras de guerra. Por ser um filme profundamente político, com uma carga muito mais forte que os outros que já vi, imaginei inicialmente que havia feito uma escolha equivocada para falar da temática do fantástico. Mas como não poderia deixar de ser, Kusturica surpreende também nesse quesito.

O contexto é o período compreendido entre a Segunda Guerra Mundial, Guerra Fria e uma posterior “Guerra na Iugoslávia”, onde se passam os conflitos retratados. Me abstendo de questões ideológicas que o acusaram posterimente de fazer propaganda de certas posturas, tentei pensar mais as sutilezas do filme. As rudezas e crueldades da guerra são de tal formas escancaradas que assustam, mas as diversas metáforas  e a utilização de elementos fantásticos permite desvelar na tela sentimentos que não podem, na minha opinião, ser reproduzidos em uma liguagem simplesmente oral . A música tem um papel fundamental para alcançar esse objetivo, de caráter cigana possui uma carga expressiva muito grande assim como um ritmo marcado e acelerado, que funciona como uma caratse de sentimentos.

A principal metáfora utilizada foi o enclausuramento de várias pessoas no porão, mantidas ali por 20 anos acreditando na existência da Guerra, mesmo após seu término. A sensação transmitida é a de sufocamento, devido a restrição de luz, e ar puro que são submetidas. É forte a idéia de farça, mantida nessa estratégia forjada por Marko, um dos personagens, sensação que pode ser ampliada para o próprio contexto de lutar em uma guerra, em que muitas vezes uma comunidade é induzida a sentir ódio por outra semelhante. “Querida, uma guerra não é guerra, enquanto um irmão não matar o outro”. Atitude levada ao extremo pela morte de Marko pelo seu irmão
Um elemento muito interessante em meio a essa turbulência é um poço que se encontra dentro do porão. Por anos a fio as pessoas que ali viviam só podiam ver ali a sua imagem refletida, e com isso,  esse tivesse o poder de armazenar os seus desejos mais profundos e a possibilidade de suavização da realidade. Em lindas cenas filmadas embaixo dágua mostra o reencontro de pessoas amadas que se jogaram no poço, amigos e amantes vivos, assim como os já mortos. No fim do filme todos convivem harmonicamente a beira de um rio, sem o ódio presente da guerra, apesar de apresentarem marcas.O barranco em que se encontram se desprende do continente, o que sugere levar a lugares desconhecidos, em que novas convivências e identidades poderiam ser construídas. Dígno da Palma de Ouro recebido em Canes em 95.




                                  


                                           

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