"Os jogos eram um obstáculo à revolução, eles limpavam o caminho do autocracia. (...) Um povo que boceja está maduro para a revolta. Os césares não deixavam a plebe romana bocejar de fome ou de tédio. Os espetáculos foram a grande diversão para a ociosidade dos súditos e, consequentemente, o instrumento seguro do absolutismo dos poderosos."
(BELLECHASSE, Andre. Herculano e Pompeia)
"Colonia audacter", anônimo. |
Corridas acrobáticas e de carro, enfrentamento de gladiadores, caça às feras e até execuções públicas: os habitantes da antiga Pompéia vangloriavam o esporte em época de jogo. O grafite Colonia audacter fora feito anonimamente num muro de um anfiteatro. Em latim vulgar, a inscrição roga por uma colônia agindo com maior audácia nos torneios esportivos, funcionando como um grito de torcida. Uma peculiaridade deste inscrito é o desenho da palavra Colonia, que dá forma a uma longa palma, símbolo da vitória. É visto que, para analisar-se esta mensagem, é preciso compreendê-la em sua forma não-verbal, em sua figuração.
Apesar de sua comoção pública, os jogos eram, para a elite imperial, um modo de se tentar controlar a oposição à dinastia. Contudo, a população pompeiana não estava alheia aos problemas sociais e decisões políticas do Império Romano.
"Rufus est", anônimo. |
A Vila dos Mistérios era comumente associada à arte erudita, com afrescos e pinturas que cultuavam Dionísio e Ariadne; nada lhe era igual às rústicas vilas. A mansão, símbolo da elite da Pompéia, recebeu em sua parede, uma caricatura do regente proprietário. Fora inscrito um desenho de seu rosto, com exageradas expressões faciais, coroado com o louro do imperador, ao lado de uma legenda: "Este é o Rufo" (Rufus est). Evidencia-se com este grafite uma clara crítica social e pública, provinda de um possível membro de classe oprimida. Intervenções socialmente engajadas como o Rufus est, ainda segundo Funari*, "quebram a hegemonia dos meios de comunicação social por parte das elites e impossibilitam qualquer tipo de censura e limitação", já que o ato de grafitar não era proibido.
É, portanto, compreensível que os pompeianos de vida simples encontraram nos muros um modo legítimo de se expressarem publicamente, sendo para mostrar resistência à classe erudita em regiões nobres ou para promover o orgulho pompeiano para os jogos promovidos pelo Império. Homens e mulheres, livres ou não, e com algum conhecimento da língua escrita, se apropriaram das paredes, fazendo destas um meio de comunicação popular, em plena Antiguidade Clássica.
*P. P. Funari em sua obra "Cultura Popular na Antiguidade Clássica", ed. São Paulo: Contexo.
Oi, Lucas, esse post está muito melhor! Bem escrito, com legenda nas imagens, referenciais teóricos claros. Sinta-se mais livre para incluir suas impressões pessoais! Um dica: quando for citar uma frase ou fragmento de algum livro, indique o ano e a página da publicação, conforme as normas da ABNT. Muito bom! Abraço!
ResponderExcluir