segunda-feira, 28 de maio de 2012

Quanto custa uma imagem pública? [Marina Dayrell] #3















Depoimento de Clea. (p. 138)







Depoimento de Marlene (p.139)






















Laudo do IML (p.142)                       














Declaração do delegado Gerson de Carvalho



Após a instauração de um inquérito com mais de 800 páginas, as denúncias realizadas pelas mães foram se esvaecendo. O Delegado responsável pelo caso, Gérson de Carvalho chegou a assinalar, pelo menos, treze contradições presentes nas investigações. Elencarei algumas delas:

1) Das nove crianças que, segundo Clea (relembrando: uma das mães que fez a primeira denúncia), também sofreram abusos, três foram consultadas por médicos particulares e, uma outra, por um psicólogo. Ambos aferiram que não havia nenhum indício de abuso sexual.

2) Apesar das declarações de Cléa de que as orgias ocorriam no apartamento de Saulo e Mara (o outro casal supostamente envolvido no caso), tanto zelador, como porteiro, afirmaram que o só chegava em casa a noite. Os dois disseram também que nunca viram grupos de crianças entrando no prédio.

3) Três pais de alunos que moravam em frente à escola alegaram que as janelas de seus apartamentos possuem vista para a Escola Base. No entanto, nunca viram nenhuma atividade suspeita ou alguma criança sair fora do horário de término das aulas, sem estar devidamente acompanhada pelos pais.

Diante da inocência dos, até então, considerados suspeitos, alguns veículos de comunicação optaram por se retratar frente às vítimas (antes consideradas acusadas) e à sociedade. Muitos desses meios concederam entrevistas aos envolvidos e exibiram em suas páginas e/ou seus programas o desabafo dos casais que haviam sido julgados pela mídia e pelo país.

Nessa perspectiva, se destaca a atuação da empresa Folha da Manhã que organizou e promoveu um Seminário para discutir o episódio. Após a realização dessas discussões, o jornal apresentou um editorial mea culpa cujo tema era o seminário. Curiosamente, ao acessar o acervo da folhaonline.com e requisitar a exibição do Jornal de 19 de dezembro de 1994, pude constar que a página em que deveria estar o editorial, apresenta-se borrada e ilegível, como se pode ver no link abaixo:

http://acervo.folha.com.br/fsp/1994/12/19/2/4945831

Além desse editorial, outras menções ao caso também foram encontradas em uma das edições da mesma semana:

http://acervo.folha.com.br/fsp/1994/12/18/2//4846450

Uma constatação que se pode fazer a partir dessa leitura é que, apesar de toda a ação de retratação, os jornalistas da Folha da Manhã se eximiram de grande parte da culpa, alegando que o jornal não cometeu nenhum abuso formal e não assumiu, em nenhum momento, suposições tomadas como verdades. Entretanto, essas afirmativas não são verdadeiras quando se analisa uma das manchetes de primeira página exibidas pelo jornal: “Perua escolar carregava crianças para orgia”.

Além disso, o Grupo Folha ignorou a cobertura do caso exercida por um de seus jornais, o Notícias Populares, cuja atuação foi evidenciada na primeira postagem. Para lembrar, o veículo foi o detentor da mais pejorativa cobertura realizada e exibiu matérias, as quais possuíam títulos como: “Kombi era motel na escolhinha do sexo”.

A retratação pública veio acompanhada da ordem de pagamento de indenização concedida pelo STJ, no valor de 200 mil reais – deixo claro que só achei dados que se referem à concessão do pagamento, no entanto, não consegui encontrar indícios de que a quantia foi paga ou não.

A partir dessas informações sobre a conduta do jornalismo brasileiro de 1994, nos resta refletir sobre o papel do jornalista perante valores morais e éticos. Até quanto se pode errar? Nossos erros são passíveis de serem retratados? O pagamento financeiro é capaz de ressarcir todos os danos? É possível custificar uma imagem social? Uma profissão? Uma vida?

Todos essas perguntas, apesar de, ao meu ver, não apresentarem respostas claras, provocam uma reflexão acerca da responsabilidade jornalística. Talvez, não estejamos lidando com a vida de outras pessoas, - em seu sentido biológico -, como os médicos, mas, talvez, sejamos responsáveis pela construção e, também, degradação da vida, em sua conotação social. E, nesse caso, a “morte social” pode ser crucial para todo e qualquer desenvolvimento da vida biológica.



 (p. 153)



"Mesmo que a imprensa, num formidável esforço de reparação, conseguisse limpar o entulho esparramado pelos corredores da Escola Base, a reputação dos protagonistas já teria sofrido um abalo irreparável. (...) Há uma evidente desproporção entre o impacto da notícia falsa e a pálida força de retificação." - Carlos Alberto Di Franco - chefe do Departamento de Jornalismo e professor titular de Ética Jornalística da Faculdade Cásper Líbero.

2 comentários:

  1. Infelizmente, essa postagem ficou um mais longa do que o permitido, pois foi necessário apresentar o desfecho do caso e, também, abordar uma das formas de retratação. No entanto, as próximas postagens obedecerão ao número de caracteres permitidos.

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  2. Marina, gosto muito do seu texto.
    Legal essa busca que você fez e os links que apresentou, embora, realmente seja difícil de ler.
    Suas reflexões ao final são bastante pertinentes e espero que guiem o restante do seu trabalho e a sua atuação na profissão.

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