segunda-feira, 14 de maio de 2012

Quem fala mais alto? [José Henrique Pires]#2


Lixo Extraordinário é um documentário marcado pela multiplicidade de vozes. De acordo com diferentes interpretações subjetivas, nota-se a presença da perspectiva da direção, codireção, do artista e dos catadores de lixo.
 Diante dessa polifonia, uma das visões que abrange boa parte do filme é a de Vik Muniz. Vik, através do documentário, reconstitui a realidade do aterro de acordo com sua tendência artística. As fotografias que o artista tirou de alguns catadores, por exemplo, não são espontâneas, e sim imagens que remetem a outros contextos artísticos.

Fotos que ilustram a retirada dos catadores de seu contexto social - o lixão.

 Outra vertente favorecida é o olhar estrangeiro sobre a questão social brasileira. Essa influência pode ter explicação na nacionalidade inglesa da diretora Lucy Walker. Também o fato de Vik Muniz ter morado os últimos 30 anos da sua vida nos Estado Unidos, acaba endossando esse argumento.
 Para comprovar essa perspectiva estrangeira sobre o documentário, basta destacar que as obras de arte produzidas por Vik a partir de material reciclável seriam expostas e vendidas primeiramente em leilões estrangeiros. O uso do inglês em muitas das passagens do documentário também é marca da influência americana.


Cenas que mostram Vik, a mulher e parte da equipe discutindo sobre o futuro dos catadores. E depois, o leilão da obra de Muniz no exterior.

 Mesmo com essas observações, é difícil destacar um olhar único e total sobre o documentário. As diferentes interpretações subjetivas acontecem de acordo com as diversas respostas dadas as questões como: “o filme foi feito para a pequena parte da população brasileira que assiste documentários ou para o público estrangeiro? O que o filme aborda, a arte de Muniz, a vida dos catadores ou as mazelas da sociedade brasileira?”

Um comentário:

  1. Acho que a ideia de um olhar estrangeiro é mais interessante do que o olhar de Vik Muniz, a menos que você queira ver Vik Muniz mais como um enunciador construído no texto do que como alguém externo a essa produção. É um assunto para discutir no encontro presencial.

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