segunda-feira, 14 de maio de 2012

As fases de produção de Humberto Mauro e a análise do curta “Meus Oito Anos”. [Laís Ferreira Oliveira] # 2


Produzido em 1955, o curta-metragem “Meus Oitos Anos” também integra, a exemplo da obra analisada em meu primeiro post, a série Brasilianas. Ambos os filmes constituem produtos que valorizam o cancioneiro popular do país. Porém, “Meus Oito Anos” corresponde à  uma fase distinta da atuação de Humberto Mauro no INCE.
            Essa distinção é analisada pela pesquisadora Sheila Schvarzman. Reconhecida por seus estudos sobre cinema, Schvarzman subdivide a obra de Mauro em dois períodos:  o primeiro entre 1936 e 1947 e o segundo de 1947 até 1964. Situada após o fim do Estado Novo, a segunda fase apresenta maior liberdade criativa.
            Caracterizado pelo emprego do poema “Meus Oito Anos”, de Casimiro de Abreu, o curta em análise usa um texto da segunda fase do romantismo literário brasileiro.  Explorando imageticamente a nostalgia presente no poema, essa obra pode ter sua compreensão ampliada sob o viés da pesquisa do doutor em sociologia Cid Vasconcelos. Segundo Vasconcelos, a própria construção das obras de Mauro dialoga com as diretrizes principais do romantismo, na medida em que, tal como esse movimento literário, visava à construção e à reafirmação da identidade nacional.
                Outro destaque de "Meus Oito Anos" é a presença de Aldo Taranto e José Mauro na equipe técnica. Responsável pela regência da trilha, Taranto foi um compositor que produziu sambas renomados. José Mauro, por sua vez, era irmão mais novo de Humberto, teve grande influência no radialismo brasileiro e dirige a fotografia do filme.
                Segue, abaixo, o link para o curta “Meus Oito Anos”.

3 comentários:

  1. Legal seu post, Laís. Achei que houve avanço nessa segunda postagem, incluindo ao trazer os autores para o texto. No entanto, continuo sentindo falta um pouco da sua impressão pessoal acerca dos filmes. O que você percebe do filme, como foi assisti-lo? No caso deste filme (mais longo e mais interessante que os primeiros, muito curtos), vemos todo um trabalho do filme em representar a saudade (o olhar do homem saudoso, a olhar para a paisagem e se ver...) e infância (as crianças brincando, os animais...). Um universo bem edulcorado e pueril esse contruído pelo Humberto Mauro, você não acha? Uma infância bastante idealizada! Destaque para a trilha, que inclusive reproduz literalmente alguns versos do poema. À propósito, você leu o poema original, né?
    MEUS OITO ANOS

    Casimiro de Abreu

    Oh que saudades que tenho

    Da aurora da minha vida,

    Da minha infância querida

    Que os anos não trazem mais



    Que amor, que sonhos, que flores,

    Naquelas tardes fagueiras,

    A sombra das bananeiras,

    Debaixo dos laranjais.



    Como são belos os dias

    Do despontar da existência

    Respira a alma inocência,

    Como perfume a flor;



    O mar é lago sereno,

    O céu um manto azulado,

    O mundo um sonho dourado,

    A vida um hino de amor !



    Que auroras, que sol, que vida

    Que noites de melodia,

    Naquela doce alegria,

    Naquele ingênuo folgar



    O céu bordado de estrelas,

    A terra de aromas cheia,

    As ondas beijando a areia

    E a lua beijando o mar !



    Oh dias de minha infância,

    Oh meu céu de primavera !

    Que doce a vida não era

    Nessa risonha manhã



    Em vez das mágoas de agora,

    Eu tinha nessas delicias

    De minha mãe as carícias

    E beijos de minha, irmã !



    Livre filho das montanhas,

    Eu ia bem satisfeito,

    Pés descalços, braços nus,

    Correndo pelas campinas

    A roda das cachoeiras,

    Atrás das asas ligeiras

    Das borboletas azuis!



    Naqueles tempos ditosos

    Ia colher as pitangas,

    Trepava a tirar as mangas

    Brincava beira do mar!



    Rezava as Ave Marias,

    Achava o céu sempre lindo

    Adormecia sorrindo

    E despertava a cantar !



    Oh que saudades que tenho

    Da aurora da minha vida

    Da, minha infância querida

    Que os anos não trazem mais



    Que amor, que sonhos, que flores,

    Naquelas tardes fagueiras,

    A sombra das bananeiras,

    Debaixo dos laranjais!

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  2. Cris, concordo com os seus apontamentos sobre o conteúdo pueril e sobre a idealização presente no poema. Nos próximos posts, tentarei expressar mais claramente a minha perspectiva pessoal!

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