Em “Revisão crítica do cinema brasileiro”, Glauber
Rocha analisa a trajetória do cinema brasileiro. No capítulo “Humberto Mauro e a situação
histórica”, o cineasta baiano reflete acerca do cinema nos anos 30 e a
influência dessa época na obra do cataguasense. Caracterizado por Rocha como o
terceiro grande ciclo cinematográfico mundial – sequente ao expressionismo
alemão e ao período clássico russo -, essa década será marcada pela
proliferação de linguagens e pelo fortalecimento do vanguardismo francês. Esse
contexto questionava o cinema industrial e influenciou, segundo a Rocha, a
valorização da verdade e da intuição na obra de Mauro – características que o
aproximam do cinema novo.
No curta “O
João de Barro” pode-se identificar a presença de alguns elementos levantados
por Rocha. Visando retratar os hábitos do pássaro João de Barro, o curta é uma obra
educativa; apresenta, porém, elementos que o distinguem da estética usualmente
empregada nessas produções. Nesse sentido, destacam-se os comentários dos pesquisadores Eduardo Gruzman e Anita
Leandro, segundo os quais Mauro enquadrar-se-ia em uma perspectiva construtivista
da educação pedagógica. Ambos salientam
o estímulo de Mauro a interpretações para além daqueles desejadas por Roquete
Pinto – diretor do INCE. Por meio de uma
narração nem sempre constante ao longo do curta, Mauro estimularia múltiplas interpretações
dos espaços vazios e das paisagens mostradas no filme.
Pessoalmente, esse foi o curta em que percebi a maior expressividade do cataguasense. Gostei
muito dos planos em que são mostrados ninhos em fiações de postes, demonstrando o contraste da
construção dos ninhos com a modernidade. Porém, senti falta das músicas
presentes nos curtas analisados em meus outros posts. Quiçá, Mauro pudesse ter
encontrado ou sugerido a Pinto o uso de alguma cantiga brasileira sobre o
quotidiano do joãos-de-barro.
Segue, abaixo, o link para o curta-metragem:
Dessa vez, não encontrei o vídeo no youtube. Por isso, postei o link para o vimeo.
ResponderExcluirOlá, Laís. Você continua indo bem. É muito bom que você tenha condições de ler mais coisas, como o texto da Anita Leandro e Eduardo Gruzman. Bom também o parágrafo final, colocando suas opiniões pessoais. Curioso você sentir falta de música nesse filme, pois há uma trilha sonora orquestrada permanentemente! Acho que a escolha pela trilha instrumental (em vez da canção) se deve ao fato de que há a voz off do narrador (ficaria mais confuso, narrador e voz cantada de fundo, simultaneamente...). Nos filmes que você analisou antes, a canção funcionava como uma espécie de narração - só que cantada. Abraço!
ResponderExcluirQuanto ao link para o vimeo, não há problema! Uma outra alternativa teria sido colocar frames do filme, apenas para ilustrar.
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