O
filme “O que é isso, Companheiro?”, devo admitir, foi o primeiro com grande
alcance (inclusive em nível mundial) a trazer à tona a Ditadura. Foi um grande “abridor”
de espaços. Porém, a tendência a colocar a situação do sequestro na perspectiva
do embaixador e a opção por um estilo adotado pelos filmes comerciais
americanos da época, como foi apontado no post com a análise desta película, são
os primeiros pontos a serem criticados. Mas o problema vai além, muito além. De
outro lado, quase como uma resposta, um esclarecimento, o documentário “Hércules
56”, de Silvio Da-Rin, de 2006, que entrevista todos os envolvidos no episódio do
sequestro: os idealizadores, os realizadores, e os libertados (aqueles que
ainda estavam vivos em 2006).
Através
da participação em algumas mesas de debate do Festival Cinema pela Verdade,
pude conversar com algumas pessoas que entendem, ou através da própria vivência,
ou através de pesquisas, deste período e destes filmes. Uma dessas pessoas, o
próprio Silvio Da-Rin, diretor do filme “Hércules 56”, apontou uma situação já
comentada por outras pessoas que participaram de outras mesas: Em “O que é
isso, Companheiro?”, o principal idealizador do sequestro se chama Fernando,
claramente em associação ao Fernando Gabeira, que participou sim do episódio,
mas apenas como ajudante, emprestando a casa que guardou o embaixador
estadunidense. Ele não teve a ideia, não escreveu a carta a ser lida na
imprensa, não teve o comportamento sensato apresentado pelo filme (que, não por
acaso, é uma adaptação do livro de Gabeira). Nessa produção, o personagem do
militante que comanda o sequestro, bem mais velho e operário, é construído de
forma a ser visto como “ruim” (dentro do já bem conhecido maniqueísmo fílmico).
Todos os participantes daquele sequestro na realidade concordam: ele está longe
de ser ruim, se aproximando muito mais de herói. É evidente que questões do
tipo são controversas. De vilão a bonzinho existe um abismo. O que é
incompreensível é ignorar os principais personagens (talvez quase
todos) de um evento ao tentar retratá-lo (pasmem, com uma estética realista) em
um filme. Ao ser perguntado por que Fernando Gabeira não aparece em Hércules 56,
Silvio Da-Rin é claro: apenas porque ele não foi, de fato, relevante para o
processo. Ajudou, é claro, não se pode ser injusto. Mas não estava presente no
recorte realizado pelo diretor ao escolher quem entrevistaria.
As
escolhas dos dois filmes no que dizem respeito à linguagem já dizem muito dos
seus conteúdos e controvérsias. Enquanto “O que é isso, Companheiro?” busca uma
verossimilhança, “Hércules 56” admite-se como um documentário. No cenário onde
estão sentados e são entrevistados os realizadores do sequestros – uma mesa - várias
câmeras se posicionam, e as mesmas são mostradas intencionalmente. Assim,
Silvio Da-Rin coloca o filme admitindo-se filme, admitindo-se um recorte, e não
almejando ser a realidade, o que nunca será, assim como nenhuma outra película.
Thais, não há nada no post! O que aconteceu?
ResponderExcluirBárbara,
ResponderExcluirEu tinha um outro post onde não mencionava o Festival, mas resolvi mudá-lo pois achei relevante citar a conversa com o diretor de um dos filmes que analisei essa semana. Considere essa data (sábado).
Ah sim, agora vi!
ResponderExcluirMuito bom seu texto!