Seguindo o rumo
da última postagem, nessa vou abordar novamente temáticas que perpassam os
filmes do diretor Emir Kusturica, como algumas metáforas recorrentes, e a
religiosidade.
Em uma entrevista feita em 2004
Kusturica diz: ”I search God. One God. It's difficult. I try to go toward a
philosophical way of thinking, I try not to divide things, not to separate,
like the Church does, profane from the sacred”. É curioso
notar essa convivência efetiva entre profano e sagrado em seus filmes. Na
primeira postagem eu falei um pouco dessa relação no mundo cigano, em que
mostra pessoas que possuem grande fé religiosa, mas se sentem desamparados,
jogados a própria sorte, e cometem atos desonestos, que acabam sendo uma
característica cultural.
A imagem da cruz de Jesus invertida é utilizada em alguns filmes, em
momentos de desespero perante a dura realidade do mundo. “Deus, o que tem feito? Você
retornou pelo buraco do mundo, Merdzan vai reerguê-lo novamente, mas deve me
ajudar, se não puder você mesmo deverá se levantar” (Vida Cigana). Existe uma crença nessa imagem, uma devoção, o
personagem beija a cruz e a levanta, mas na ultima cena do filme ela cai
novamente sozinha. Os personagens nos filmes, na minha opinião, sempre
apresentam essa dubiedade, nenhum deles são construídos de forma maquineísta,
apresentam suas elevações como também seus tropeços, não existe um julgamento
pontual dos atos, são dúbios em sua construção e humanizados. Em Underground
isso também fica muito claro, quando o personagem Petar manda matar
acidentalmente em meio a guerra, o amigo Marko e a mulher que amou, Natalija. A
cena é muito forte, está presente no centro, a cruz invertida, a qual é
circundada pela cadeira de rodas do amigo, em chamas.
Um outro elemento que se repete é um véu de noiva que sempre está
planando pelos ares, que notei nos filmes Vida
Cigana, Gata preta Gato branco. Em cada uma das narrativas o véu assume
diferentes significados. Em Vida Cigana,
a irmã de Pehan(personagem principal) vê o véu na estrada, dentro do carro,
quando está em direção a uma perigosa cirurgia, e ela descreve ele como sua
mãe. Seria como um espectro a protegê-los e guiá-los, um significado mais
espiritual. Já no outro filme o véu voando pelos campos seria mais como uma
alusão á noiva que havia fugido do casamento forçado. Existe uma forma parecida
com que o objeto é filmado, sempre flutuando no vento, como que se perdendo no
espaço.
Se você se interessar pelo assunto, vale a pena ir atrás de algumas aulas de semiótica. Acho que isso vai te ajudar muito nessas análises. A minha impressão é que você ia gostar. (no último e-mail, respondi sobre a DJ que toca música do Leste Europeu)
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