sexta-feira, 15 de junho de 2012

Sala de cinema: ritual de projeção [Luísa Teixeira de Paula] #4


“Ver filmes, tomar sorvete, paquerar. O cinema movimentava a cidade e as crianças que cresciam em ritmo mais lento que  o número de andares dos arranha-céus. Ir ao cinema era mais do que assistir ao filme escolhido. Era o momento de olhar, sentir, fruir a cidade. Além da divertida viagem no bonde que descia a rua da Bahia” brinca Celina Albano, em entrevista a Jessica Soares, para seu Trabalho de Conclusão de Curso em Comunicação Social, intitulado De ontem em diante. Com tantas mudanças ocorridas nas salas de exibição belo-horizontinas desde seu ápice até hoje, passando pelas transformações da tecnologia e da arquitetura urbana na cidade, surge então a grande questão: o que leva as pessoas às salas de cinema?

Inspirados nos enormes cine-teatro americanos, os grande cinemas de Belo Horizonte das décadas de 1920 e 1930  acabaram por se tornar o centro de lazer da cidade, em uma época de divertimentos limitados. Inicialmente destinados à alta sociedade, eram sinônimo de “grandes programas sociais, do ‘ser visto’ ”, de acordo com a professora de Comunicação Social da UFMG, Cláudia Mesquita. “O grande programa social de Belo Horizonte era ir ao cinema. Nós conversávamos com as pessoas antes ou depois do filme, conhecíamos quem frequentava. Já na fila você via os amigos, discutia quem estava lá , quem não estava, se ia lotar. Era algo muito excitante! Você entrava na sala e pouco depois começava o la la la la la, la la - cada sala tocava uma música. A cortina pesada ia se abrindo. Era uma coisa mágica, você sabia que ia assistir algo especial”, ainda segundo a entrevista de Celina Albano, em De ontem em diante.

Com as diversas transformações a que foi submetido ao longo dos anos, o cinema não perdeu essa capacidade de maravilhar seus espectadores. É justamente esse “caráter coletivo,  essa situação de fruição especial: o escurinho, a tela enorme, o som, a falta de mobilidade” que fazem com que, mesmo com a facilidade de se assistir filmes no conforto de casa, em telas cada vez maiores e a custos cada vezes menores, as pessoas continuem a frequentar salas de projeção em 2012, de acordo com Cláudia Mesquita. “Ir ao cinema é fazer parte de ritual coletivo; assistir em casa não é a mesma coisa, o tipo de experiência não é exatamente igual” completa a professora doutora. Da mesma maneira, para Delfim Afonso Junior, chefe do departamento de Comunicação Social da UFMG, o cinema “parece um mundo dourado com potencial de mudar a vida” de seus espectadores, e é justamente a sala de exibição, como uma “convergência de coisas diferentes e ao mesmo tempo, conjunção de ambiente, experiências e busca” que garantem que a magia se realize naquele ambiente especial e dotado poderes especiais, uma “mistureba de tempo e espaço”.

De acordo com 
Ataídes Braga, autor do livro “O fim das coisas - as salas de cinema de Belo Horizonte”, "quem diz que não vai às salas não pode falar que gosta de cinema. Não é a mesma coisa assistir na tv, no sofá de casa. Na sala se tem a questão do espaço, da sociabilidade, da relação  que você estabelece com o outro - com quem entende nada, com quem entende tudo. Ou seja, é nesse mundo, nesse mundo das salas de cinema, que se aprende de verdade”.




Trailer do filme Cinema Paradiso, que relata justamente essa importância da sala de exibição na vida de seus espectadores

3 comentários:

  1. Como a minha proposta para essa quinzena se baseia principalmente em entrevistas, o post acabou atrasando em virtude do feriado prolongado. Ainda assim, o material coletado é de grande valor pro trabalho como um todo, uma vez que 1500 caracteres são insuficientes para expor tudo aquilo que foi dito pelas pessoas com quem conversei.

    ResponderExcluir
  2. Oi, Luísa. Legal o trabalho, mas infelizmente apresentar o post com atraso faz você perder uns pontinhos. Você também estourou o limite de caracteres. Viu por que é preciso recortar, delimitar bem o que se quer? Não dá para falar tudo no post.

    Achei os comentários das entrevistas bem legais. No parágrafo em que aparece o depoimento da Cláudia Mesquita, você falava do cinema da década de 20-30. Ficou parecendo que a entrevistada viveu essa época, quem não conhece a Cláudia ia achar que ela tem 100 anos! Rsrs.

    O filme selecionado, embora tenha temática similar, me pareceu descolado do resto do post!

    No mais, bom trabalho. Agora estamos na reta final!
    Abraço!

    ResponderExcluir