Jeca Tatu é um homem, um
caipira e um semi analfabeto. Mas antes de tudo é uma personagem, uma
construção feita por um ator que encarna o esteriótipo de uma classe. Tentar
entender como funciona essa caracterização é o objetivo desse post final, além
de buscar informações a partir da ótica do telespectador e perceber como ele
enxerga o famigerado caboclo de Mazzaropi.
Antes de mais nada, pesquisando sobre as influências que o artista paulista recebeu, encontrei em muitos lugares a nomenclatura dada a Mazza de Charles Chaplin brasileiro, fazendo referência a Carlitos, a simpática e desastrada criação do ator inglês. Em 2011 uma mostra foi produzida pela Prefeitura de São Paulo com o intuito de traçar esta comparação entre artistas tão carismáticos e que buscavam entender a mudança vivida pela população recém chegada a cidade moderna.
Usando dois filmes como exemplo, ambos já discutidos no blog,“Mazzaropi em Jeca Tatu ” e “A tristeza do Jeca”, posso traçar diferenças quanto a função de Jeca na narrativa. Enquanto no primeiro ele consegue ser o herói, aquele que vence o vilão, no segundo ele é apenas um peão no jogo político. Mas em ambos os casos, a comédia e a supervalorização de traços rústicos, das roupas simples e dos pés descalços causam emoção no público citadino que lota as exibições e se apaixona pelo que na época é considerado apenas cinema popular, cinema das massas.
E hoje, como enxergamos a função cumprida por Jeca tanto anos atrás? Posso arriscar dizer que ele representou um retrato ambíguo da vida, cheia de momentos bons e ruins. Ele deu diversão ao grosso da população e foi também um ícone, um herói com tantos defeitos e desvios, mas que do seu jeitinho manso, lerdo, sonso, ia levando as coisas.
O vídeo abaixo ilustra a chegada do Jeca na cidade e sua tentativa de se adequar ao modo urbano de viver, o Jeca fazendo "jequisse".
“Tem o intérprete que
sentir simpatia pelo símbolo que se propõe a interpretar. A atitude cauta, a
irônica, a deslocada - todas elas privam o intérprete da primeira condição para
poder interpretar.” (Fernando Pessoa)
"evoluir a mentalidade e acompanhar a filosofia contemporânea" hahahaa... É interessante ver a produção cultural resultante dessa mudança do campo para a cidade... Se observamos, por exemplo, para a música sertaneja, veremos como isso rendeu muitas canções. Metade das canções de Milionário e Zé Rico tocam nesse tema.
ResponderExcluirVerdade, não tinha pensando nisso. João Mineiro e Marciano também tem umas bem interessantes que tratam dos desafios de sair do campo e chegar na cidade muitas vezes sem entender os códigos de conduta.
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