segunda-feira, 11 de junho de 2012

Liberdade e informação, ainda que tardias [Ana Luiza Pio] #4

Em 1996, a Capricho volta a ser publicada quinzenalmente. Em 1997, sofre novo redirecionamento de público, restringindo-o ainda mais à fase inicial da adolescência, dos 12 aos 16 anos. Na capa de 97 pode-se perceber um certo abrandamento do tema: as chamadas das matérias remetem à amizade, saúde e música, trazendo uma pequena menção ao sexo na parte superior da revista, que não esclarece ao certo como ele será abordado na matéria. Na capa da revista relativa à amizade, é tangível a “infantilização” presente nas cores, na foto de capa e nos temas das chamadas, que remetem à amizade duradoura, às táticas de negociação que se podem ser utilizadas nos diálogos com os pais e – nesse momento, em contradição com o feeling dessa capa em particular – sexo. Em meio às fofurices pré-adolescentes, no canto direito inferior, duas chamadas contribuem para a construção da crescente liberdade afetiva que se buscava atribuir às meninas: dicas de como “se livrar” de um menino, o que poria a menina numa situação de controle da situação, muito diferente do que se via nas primeiras edições da revista. A outra chamada, fazendo menção ao funcionamento da pílula anticoncepcional, também demonstra uma evolução de pensamento e preocupação da transmissão de informação a um público extremamente novo. 


















Apesar dessa restrição de público e da aparente suavização do conteúdo, vê-se que o sexo não some de cena, apenas muda de foco. Nas capas de 1998 e 1999, além das chamadas alusivas às celebridades que as ocupam e das matérias costumeiras de beleza, há também as que apresentam matérias de questionamento ao “não-início” da vida sexual, abordando a temática da abstinência adolescente. É importante notar que em 1999 o público da revista foi novamente expandido, não tendo como alvo, adora, uma faixa etária específica mas um “estado de espírito”: meninas que estivessem vivendo a adoelscência, independente da idade.


















Na capa de 2000 também pode-se ver como a revista busca “qualificar” o público leitor para as interações amorosas e põe a menina em posição de igualdade com o menino, sugerindo formas “espertas” de convidá-lo para sair. As menções a sexo também estão presentes no relato da primeira vez de Juliana Silveira e uma conversa sobre o assunto com Junior, uma importante figura do sexo oposto para as adolescentes do começo do milênio.



Mais à frente, as capas de 2002 e 2003 trazem importantes figuras do cenário musical da época, Avril Lavigne, que trazia em suas músicas o ar despreocupado e divertido que a levou a um sucesso e iconização rápidos e Wanessa Camargo, cuja chamada de matéria faz alusão à liberdade feminina e do direito de posicionamento igualitário num relacionamento.


 

Um comentário:

  1. Muitas capas analisadas. Deve ter dado um trabalhão.

    Mesmo não tendo conseguido as revistas, acho que estamos chegando a revelantes observações sobre a Capricho.

    Foi bacana ter percebido que o sexo não saiu de cena, apenas mudou de foco. Também é interessante como algumas décadas depois a abstinência volta a cena. Acho que tem muito assunto para o trabalho final.

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